Tuesday, 14 August 2012

My body is a cage by Arcade Fire


Meu corpo é uma jaula que me impede
De dançar com aquela que amo
Porém minha mente segura a chave


Eu estou em uma cena
De medo e insegurança
É uma peça horrível,
Mas eles aplaudirão mesmo assim


Você está perto de mim
E minha mente segura a chave

Estou vivendo em uma época
Que chama a escuridão de luz
E apesar de minha língua estar morta,
Suas formas ainda preenchem a minha cabeça

Estou vivendo em uma época
Cujo nome não sei
E apesar do medo me manter seguindo em frente
Meu coração ainda bate tão lentamente


Você está em pé ao meu lado
E minha mente segura a chave
Meu corpo é uma...

Meu corpo é uma jaula
Nós usamos o que nos foi dado
E só porque você esqueceu
Não quer dizer que esteja perdoada

Estou vivendo em uma época
Que grita meu nome à noite
Porém quando eu chego à saída
Não há ninguém à vista


Você está perto de mim
E minha mente segura a chave

Liberte o meu espírito
Liberte o meu espírito
Liberto o meu corpo











16-36 = 25-45
16-36+(81/4) = 25-45+(81/4)
(4-(9/2))2 = (5-(9/2))2
4-(9/2) = 5-(9/2)
4 = 5
4=2+2

=__________________________





Thursday, 9 August 2012

Track -9, Artista desconhecido


Jogado no sofá, tocando uma música que alguma pessoa deve amar em algum lugar. Uma lata de cerveja esquentando ao lado do amp. Eu perdi a vontade de beber. O que esse som está fazendo comigo? Como pode um amontoado de acordes qualquer despertar tanta coisa? A vida passa lá fora e eu só quero repetir esse refrão mais uma vez, ele dói em meus ossos. Todo mundo está indo embora daqui, e esse lugar é grande demais pra mim, eu sei. Vou tentar preencher todos os cômodos vazios com som, mesmo sabendo que sozinho talvez eu não consiga. Tenho as paredes que tanto quis, mas não sobrou quase nenhuma vontade de pintá-las. Deitar no chão e olhar para o teto com a voz do Cash ao fundo, isso ainda é bom, é uma mania que dificilmente irei largar. Joguei tanta coisa fora que agora não faço ideia do que colocar no espaço vazio que elas deixaram. 6 dias e minhas coisas ainda cheiram cigarro, isso me irrita. Minha sorte é ter a June sempre por perto, ela é tão leve que posso carregá-la pra cima e pra baixo. É bom olhar no espelho e reconhecer que as decisões que tomei me fizeram bem. É ruim levantar da cama e lembrar que esqueci de fazer café na noite passada, mas tudo bem, o cheiro de café fresco pela manhã me anima. Preciso dar uma de yupie maldito e arrumar uns quadros. Não tirei a música do repeat e me peguei cantando ela de novo. A cerveja está fervendo, não vou tomar essa droga. Eu continuo preso nos anos 50.
Eu continuo riscando os livros. Talvez, eu realmente não saiba. Talvez eu realmente não queira saber. Talvez eu apenas queira voar, ou simplesmente respirar. Seguindo meus passos tortos, sem saber pra onde vou. Só sei onde estou. Esse sou eu, aprisionado em uma casa de vidro. Vivendo da forma que sempre quis, sem lembrar de quando foi esse "sempre quis".

A vida é fácil. Sou um maldito cretino sortudo no fim das contas.



(LUCKY n° nine)





Tuesday, 7 August 2012

Videotape


Pare a fita, volte nove quadros. Você se reconhece?
Reconhece esse sorriso que você nunca mais viu?
Consegue se lembrar deste dia?
O dia mais feliz de sua vida?
Aperte o play.
Você reconhece estes rostos?
Tente imaginá-los sem as rugas e a idade.
Eles estavam lá, aplaudindo e celebrando sua breve felicidade.
Você acabou com a cor. Você acabou com o contraste.
Tudo virou cinza.
As cartas que você nunca mandou.
O amor que você inventou.
Regravado. Sobreposto.
Avance mais 3 minutos e olhe.
A solidão está sentada em seu ombro.
Isso merece replay.
Não chore. Eu tenho isso gravado também.
Uma fita chamada angústia.
Uma fita chamada desespero.
O lago, um beijo entre as árvores.
Uma tarde jogada no sofá.
Uma madrugada de sábado frio, sozinho.
Duas barras de chocolate.
Não adianta me contar isso.
Você nunca gravou uma fita chamada felicidade.
As tardes morrendo.
Os dias passando.
As coisas sumindo.
Eu estava filmando.
Eu estava lá quando você disse adeus.
Eu estava lá quando a vida fugiu por entre seus dedos.
Eu estava lá quando choraram sobre o seu corpo.
Eu sou o dono da sua história.
Eu sou o dono da sua fita de vídeo.
O dono do dia mais feliz da sua vida.
O último dia.

Gravado,
Em uma fita de vídeo chamada suicídio.



(N°9)




Sunday, 5 August 2012

A day in the life


Você irá acordar um dia e olhar para o lado. Você irá encontrar uma mulher que não o ama, e você também não ama ela. Você sairá da cama pequena se sentindo desconfortável, caminhando pelos corredores da casa simples que conseguiu construir ao longo de tantos anos. No café da manhã, seus filhos que não te respeitam estarão à mesa, gritando e pedindo porcarias que eles não sabem usar. Sua mulher estará na TPM, e nem de longe lembrará a garota meiga que um dia você conheceu. Você se sentirá mais desconfortável ainda.
É hora de ir para o trabalho que você odeia. Você começa a se perguntar quando foi que sua vida profissional virou um ciclo de lambeção de bolas interminável. A imagem do seu chefe obeso, babando enquanto enriquece às suas custas, te deixa enojado. Seu carro do ano financiado em 72x, não pega, e você começa a se perguntar quando foi que passou a depender de um pedaço de plástico enorme para se locomover. Seu coração começa a berrar.
Você está atrasado novamente e resolve pegar um ônibus. Ao entrar, você é sufocado pelo cheiro de pipoca doce misturado com depressão. A porcaria do ônibus está completamente lotada. Você tenta encontrar um espaço entre a porta e os seios flácidos de uma senhora. Seu estômago está se auto consumindo. Um jovem magrelo que parece ter roubado as roupas do Jô Soares liga um aparelho que um dia você conheceu como celular. Você tem vontade de esmagar o crânio dele com uma pedra.
Você resolve descer e continuar apé até o trabalho. Seus músculos provavelmente não irão aguentar a caminhada. Você não entende o trânsito. Você não entende a moda. Você não entende o que as pessoas estão ouvindo em seus carros. Você não entende porque tudo é tão alto, nem porquê as pessoas buzinam tanto. Seu pulmão parece falhar.
Você chega ao seu emprego. Exausto, e ainda são 8 da manhã. Na recepção, a secretária gostosa que você nunca irá foder te dá um bom dia de plástico. Você acha que já é o suficiente para sorrir.
Você chega em sua minúscula mesa.  Pelo menos por enquanto, você se sente feliz.
Apertar botões em um computador, por mais 8 horas. É tudo o que você precisa fazer.
Você vê seu chefe se aproximando, e prepara seu psicológico para o esporro de sempre.
Você não consegue se concentrar no que ele está dizendo, a baba caindo no paletó francês que você nunca vai conseguir comprar te distrai. Ele se foi e você não viu.
É hora do almoço. Você não deixa de comparar o refeitório da empresa com um campo de concentração nazista. Pega sua refeição e senta em um canto qualquer, implorando para que ninguém se aproxime. A comida tem gosto de pneu velho.
Durante o resto do dia você irá tentar lembrar quando foi a última vez que fez sexo. Em vão.
O expediente chega ao fim. Pensar no caminho de volta te faz vomitar.
Você entra no piloto-automático, e quando se dá conta, está parado em frente a porta de casa. Esse é o seu momento de agradecer à Deus.
Você se senta à mesa para o jantar. Seus filhos não estão em casa, e sua mulher está na sala vendo novela. Você só pensa em ir para a cama.
O quarto cheira à sexo. A cama cheira à sexo. Você não liga. Na verdade, sente pena de quem estiver fodendo a sua mulher. Ele que assuma as contas dela.
Você coloca a cabeça no travesseiro e agradece por estar vivo. Agradece por saber que é livre, e que poderá fazer tudo isso mais uma vez amanhã.
Essa é a sua vida.

A sua vida que eu recuso viver.


(N°9)

Tuesday, 31 July 2012

Eu Vs Eu

Eliminar a existência do Eu. Eliminar a existência do ego, da convicção, da esperança, dos planos... Tarefa complicada. Mais complicada do que imaginei. Enjaulado como um rato, afogado em antibióticos. Sufocado com a raiva. Eliminar o sentimento e o vicio. Eliminar a curiosidade de sua alma, Eu não sei mais se consigo ir em frente. Os dias são só fragmentos. São apenas pedaços de coisas se repetindo infinitamente, e se eu encontrar algum motivo para sorrir no meio deles, não há com quem dividir. Eu incito o ódio por onde passo por não acreditar que exista algo mais verdadeiro nas pessoas, Eu incito o ódio até sem querer, até quando queria descobrir se há algo mais belo nesse mundo. Eu queria aprender a dançar, eu queria aprender a nadar, eu queria ver sorrisos e dias ensolarados, mas meu coração pesado destrói tudo por onde passa, trazendo essas nuvens negras e a guerra. Ninguém sabe como eu realmente sou. Essa barreira de arrogância e desprezo que criei para me proteger funciona, afasta as pessoas de mim, só nunca parei pra pensar que ela também afastaria todos aqueles que eu gostaria que ficassem. Minha própria barreira me impede de voltar atras e arrumar as coisas com todo mundo. Eu quero entender porque tenho tanto medo de mudar, porque luto tanto para destruir uma coisa que eu mesmo criei. Eu sei que só eu posso fazer isso, eu sei que ninguém vai me pegar pela mão e me mostrar o caminho. Eu sei que só posso contar com a única pessoa que me decepcionou ao longo de todos esses anos: Eu mesmo.






Number 9

Friday, 20 July 2012

Special K

Esse é o colapso final da comunicação humana. Nós, você e eu. Você sabe, ambos implorando por contato, por um simples olá que fosse verdadeiro. Não suporto mais esses dias frios. Esse clima irritante que paralisa todos os sentidos e a circulação sanguínea. Não suporto o espaço vazio entre as coisas e as pessoas. Não suporto essa cor azul sem graça e esses sorrisos em auto-retratos. Malditos cegos com câmeras digitais. Malditos surdos que imploram por música. Eu não estou lá, eu não estou aqui. Esse vácuo da prisão eterna que é a liberdade está me matando. Sonhos com prazo de validade, crianças velhas rastejando pelas ruas. O mundo não era assim, e se era, eu não sabia. Seu sorriso me distraía, pois eu sabia que no meio de todo o plástico aquilo era real, agora é só mais um aprisionado em uma fotografia ruim. Implorando para ser reconhecidos ou lembrados, uma vergonha. Um crime cruel mudaria tudo, ficaria escrito eternamente onde realmente importa. Sinto vergonha do que sinto, sinto ódio por odiar tudo. Não consigo mais saber se estou realmente acordado ou em um daqueles sonhos ruins. Essa insônia, esse nó infinito no estômago, essas palavras que não consigo berrar. Um beijo baby, sim, só um beijo para pôr um fim em tudo. Uma machadada na cabeça pra nos tornar felizes, um tiro no ouvido de quem diz que o amor existe. Uma fuga. Qualquer coisa que me faça sentir alguma coisa além de desprezo por nossa espécie. Me dê todo o sexo do mundo. Vamos trepar em algum lugar brilhante, vamos nos foder em público. Mostre ao mundo seu estúpido poder se se reproduzir, o poder de seduzir. Mostre ao mundo que acha que você é idiota o seu poder de destruição. Se venda por um carro, jogue fora todo o vento no rosto pelo cheiro de gasolina adulterada. Troque sua linda personalidade por um pedaço de papel sujo. Me esfaqueie, quebre sua cara em um muro e sinta o cheiro do sangue. Raspe seus seios no asfalto, me abuse. Se vingue com lágrimas, com dinamite, com o que quer que seja. Aposte na loteria, medite, me mate. Chore por ver ele ir embora pra não voltar, sorria em ver ele se acabar nas drogas e nas guitarras. Celebre com vinho o amor que ele jogou fora, chute seus dentes quando ele sorrir. Se masturbe pela manhã pensando em alguém que valeu a pena, me faça um filho. Eu sou um homem em queda, um homem celebrando a solidão no meio da multidão. Eu sou seu coração partido, eu sou o reflexo que você não reconhece no espelho. Eu sou seu talento desperdiçado em busca de aprovação alheia. Eu sou a mentira que você conta para você mesmo (a) todas as manhãs. Eu sou seu frio, externo e interno, seus medos e sua libido. Eu quero a violência, eu quero orgasmos. Eu quero uma vida banal desperdiçada no meio da fumaça. Eu quero atropelar pessoas com meu carro antigo. Eu quero te levar fazer compras e fingir estar interessado no ouro no seu pescoço. Eu quero esconder armas embaixo da cama. Eu quero quebrar seus joelhos de madrugada e arrancar seus cabelos com meu canivete. Comida enlatada e não ter onde dormir. Pegar a estrada até a gasolina acabar. Estuprar uma vagabunda e arrumar outro carro. Me risque com a caneta, me coloque um preço e me pendure em um cabide. Negue o meu nome. Me mate como quiser, me venda, me alugue, me congele, me abuse e sorria. Cada passo dado é sincronizado, cada sorriso é memorizado, cada fotografia é queimada. Me enforque. Me liberte. Por favor. É como uma galáxia chegando ao fim, uma facada no peito, um tiro no joelho. Anestesia total. Eu não posso carregar a tristeza do mundo, eu não posso carregar as esperanças de todos. Eu não pedi isso. Eu quero sentir alguma coisa. Eu quero sentir qualquer coisa. Não há ninguém, não há mais ninguém do lado de fora. Eu menti, eu nos matei com querosene. Eu queimei minha alma à toa. Eu nos joguei fora por não saber ler o manual de instruções. Eu estou vazio. Eu estou vazio. Eu sou o vazio dos seus olhos. Eu sou a fumaça que corrompe o seu pulmão. Eu sou o amor e o ódio de todas as nações.
Eu era uma criança.
Eu era vivo.
Eu sentia.


(eu penso que amava)



Lucky Number 9

Wednesday, 18 July 2012

I Hate Rock'n'Roll

Como eu te odeio, sim, odeio com todas as forças porque minha vida no fundo,depende de você.
Tantos anos se arrastando por esses acordes, implorando por uma dissonância à mais. O lindo milagre de se ganhar uma linha inteira sem a quebra do tempo. Eu te odeio, ah como eu te odeio! Odeio todos seus mecanismos, aparelhos e escalas! Odeio a falta de sono que você me causa, as olheiras fiéis que insistem em não me abandonar. Odeio a paixão intensa que suas cores metalizadas causam em meu peito. Odeio aqueles que usam você, te sugam e te jogam fora por não saber o quão bela você é. Odeio aqueles que insistem em te colocar num canto da estante empoeirada, simplesmente por um luxo nojento. Odeio você por ser tão perfeita e infinita com suas 7 divisões. Talvez te odeie tanto por me ver refletido em você, por saber que no fundo somos uma coisa só, lutando desesperadamente para se separar. Luta em vão, pois no fim, eu irei e o som ficará, ecoando no peito daqueles que um dia entenderam o que tudo isso significa.




Lucky (killed by noise) Number 9

Monday, 18 June 2012

Persona non grata

Aqui estou eu mais uma vez, intoxicado pelo brilho sedutor dessa tela, lutando para assumir o controle de uma humanidade inteira que criei com o pensamento. Lutando para tentar entender a dádiva e a maldição que é ter uma mente corrompida e criativa. Como posso dormir se há centenas de pessoas na minha cabeça implorando para ganhar uma vida? Eu reluto, recuso o quanto posso. Eu seria só mais um deus cruel para eles, já que sou eu quem traça seus destinos, suas vidas e suas cruéis mortes. Como posso saber se realmente é indolor quando lhes tiro a vida de uma forma tão violenta? Ou quando destruo civilizações inteiras com um único pensamento? Eu iniciei um jogo perigoso, e às vezes assustador. Estou jogando com minhas próprias personagens. Andando por ruas que construí e me envolvendo com mulheres que parecem querer sair da ficção a todo custo, gritando por uma página a mais de vida, por mais duas linhas de perversão. Me sinto ingrato por recusar suas falas e personalidades. Não posso dar a todos a vida que merecem, Não posso dar vida à uma pessoa simplesmente para matá-la nas últimas linhas. Preciso pensar, preciso criar uma vida decente para todas elas, com amigos, dilemas, romance e mortes dignas. Juntar todos os fragmentos de mundo em um só, para que eles possam ir e vir sem pedir a minha opinião. Minha cabeça dói por começar a pensar em um cenário, talvez poucos saibam como é trabalhoso criar um planeta do nada. Um planeta com economia própria, contexto histórico e padrões sociais diferentes, com ruas e prédios arquitetados com detalhes. Esse é só o começo, a parte mais cruel  é com certeza preencher esse lugar de vida. Criar pessoas que não terão uma função maior do que simplesmente ter um nome, talvez com sorte, uma fala ou duas. Ferramentas para que os protagonistas atinjam seus objetivos mórbidos, tendo a existência inteira resumida à um apertar de botões ou atender um telefone. O que me conforta em iniciar um vasto mundo para deixá-los livres, é a ideia de que se eles saírem do meu controle, dessa vez eu cometo apenas um apocalipse, ao invés de dizimar outra centena de galáxias.



L. Number 9

Saturday, 16 June 2012

entrega


mata essa minha vontade,
tenta saciar esse meu desejo,
me enche de você
até que eu transborde,
então pára.
repara no que aconteceu
e aproveita, deita
e se esbalda.

aproveita esse colo,
quente.
que agora é seu.
por hora é todo seu.

inconscientemente: Alucinada.

Racionalizado.



Clarice envolveu-se. Aconteceu novamente, tão rápido e intenso que inevitavelmente ela era tomada por um medo angustiante. Medo de mudanças drásticas da noite para o dia.

Impossível não prender-se àqueles olhos que Clarice costumava comparar com o mar, profundos de um azul cristalino belíssimo; ora águas bravas que te dominavam por inteiro e te lançavam para a imensidão, ora mansas porém persuasivas. A cor pálida de sua pele era como as manhãs de inverno européias, juntamente com os seus cabelos negros da cor da noite formavam uma beleza invejável. Brigite era intimidante e dissimulada ou apenas racional, como ela mesma costumava se rotular.

A primeira vez em que se encontraram houve um desejo árduo entre aquelas duas almas que pouco a pouco se conheciam.

Clarice era de um jeito que caía de amores facilmente, o que é diferente de se entregar fácil. Tinha receio de relações, mostrava-se uma mulher forte, não muito adepta de demonstrações de carinho e afeto. Completamente seu oposto. Mascarava-se como meio de defesa. Pessoas frágeis correm um risco maior de se machucarem, tanto fisicamente como psicologicamente.

II

Clarice sentia um desejo imenso de gozar à custa de Brigite. Selfsex? Tentava. Na realidade nem ao menos tentava, que paradoxo! Tocava-se e instantaneamente o desejo era cessado, pois sabia que jamais alcançaria o ápice do prazer como Brigite lhe proporcionava. Sentia vontade do atrito, dos gemidos, coxas entrelaçadas, suas unhas cravadas na pele provocando-lhe devaneios, gritos, olhares, respirações ofegantes, beijos, abraços, carícias… Clarice conformava-se e continuava esperando e esperando.

A verdade é que Brigite também necessitava de Clarice. Como qualquer ser humano precisa de outro, seja uma relação fraternal, amor ou paixão. Sentimento egoísta, talvez. Visando seu próprio prazer e bem estar. Todo ser racional faz/sente, involuntariamente ou não, toda hora, há todo momento.

Clarice sentia falta do brilho maravilhoso no olhar daquela mulher que lhe cativara. Sentia falta do sorriso secreto que pouco a pouco desaparecia. Ela sentia-se angustiada por talvez não suprir a necessidades que alguém como Brigite procurava em outro ser.

Brigite estava cansada. Cansada da mesmice, da monotonia e de acomodar-se, não por opção, mas por conveniência. Estava infeliz consigo mesma e aparentemente não tinha relação alguma com Clarice. Ela tinha sede de conhecimento e novas experiências. E Clarice tinha medo dessa sede, medo de ter saciado esta sede em Brigite a tal ponto que ela já havia se cansado e estaria buscando algo novo.

Clarice entrou em crise e calou-se. Seus sentimentos ficaram concentrados como em uma panela de pressão a ponto de explodir, borbulhava, ardia. Ela não iria falar, jamais. São coisas que são percebidas com o mínimo de atenção e não ditas. Todo ser humano que se preze deve ter ao menos um fio de orgulho e amor próprio.

Uma cabível solução para Clarice, seria uma pinça que ela pudesse enfiar em seu próprio cérebro e arrancar da consciência todos os pensamentos que a perturbavam. Sentia-se só, novamente, e às vezes parecia gostar de sentir-se só.

Na penumbra de seu quarto, exalando a mofo e cigarro barato, debruçada sobre a janela, lágrimas inundavam suas bochechas rosadas e Clarice decidira tomar uma atitude drástica: executar sua razão. REDRUM.




por: Mad Maria.

“Oh mar, ah mar” leve-me à insanidade

Palavras são ditas, há todo momento. Palavras são inventadas, persuadidas. Sempre acompanhadas de sentimentos, maus ou não. Às vezes tornam-se individualistas, egoístas, carregados de sentidos obscuros e intensos. Sentidos em inúmeras direções, sentidos no gosto e no ardor da alma, isso é, se houver uma. Sentidos dispersos entre sussurros e gemidos… que sensação! Sentimentos vistos através dos olhos cristalinos, perdendo-se na imensidão do mar… “OH MAR, AH MAR”, leve-me à insanidade…

Palavras… Induzem. Sentimentos são instigados, porém amadurecem.
Novamente, palavras, algumas não precisam de uma boca indecisa e imatura, tampouco de um ouvido ingênuo. Necessitamos apenas sentir e apreciar. Omitir dos olhos curiosos, because no one need to know.



Mad Maria

Sunday, 3 June 2012

Vida Diet

Ah, essa vida moderna, enlatada e cheia de conservantes! Esse ritmo frenético de indas e vindas sem sentido! Esse ódio pré-programado em html e os amores barrados no anti-vírus. apertos de mão que não existem e sorrisos estampados com tinta barata. Isso tudo me enoja. Antiquado sentimento de orgulho por ser um só, por ser só um. Ócio detestável dos meu olhos, que se desviam das palavras impressas e se prendem aos caracteres de 8 bits. Doce ironia em jogar um sentimento a mais no limbo desse mundo. Padronizando mais um pedaço de mim. Me tornando encontrável aos satélites que me guiam para casa. Me tornando mais um ao invés de um só. Amável dissonância que chega aos meus ouvidos, direto dos confins de Londres via fibra-óptica. Linda raiva pasteurizada em uma guitarra made in china. Louvai ao semi-deus Processador de dados, pois ele transmite todo o conhecimento necessário para nossa vida. Louvai aos anjos que enviam nossas mensagens por e-mail, pois sem eles, nossas preces não seriam atendidas. Ah, a incrível revolução com uma imagem! o protesto em um muro sem tijolos. A batalha Vietnamita renderizada com desprezo, e as mudanças que queremos nos países que nunca visitamos! Celebrai-vos a imbecilidade humana, pois agora  podemos comemorar um Status coletivo! Não há culpados, não dessa vez!
Celebrai mais uma vez a ironia! A ironia de escrever essas palavras, que produzem mais um leitor automático de palavras automáticas.





(Lucky Number 9)



Saturday, 19 May 2012

Delícia de vácuo

  Não, isso não é gostoso como suco de laranja daqueles 'sufreshes' que vendem na Nissei, que por sua vez é uma farmácia renegada que apela para conveniências e à cada assalto cobra do funcionário o dinheiro roubado porque ele não arriscou sua vida reagindo ao assalto.
  Isso também não é gostoso como 'lucky strikes' que distraem sua hiperatividade em troca da culpa promovida pela propagando clichê-moralista. Isso pode ser o que você quiser. Portanto, se você não tem imaginação, isso não é nada. Assim como esse texto não passa de reflexões momentâneas-efêmeras de alguém que insiste em se aborrecer quando deveria tentar meditar.






   
Jordood

Sunday, 13 May 2012

Zyklon B

Eu fiz parte das forças do Eixo
Eu lutei ao lado dos Aliados
Eu defendi os céus de Londres dos ME-109
Eu participei do ataque relâmpago na Polônia
Eu estava na Baía dos Porcos em '61
Eu estive em Laos combatendo a FNL
Eu estive na Guerra do Golfo, fazendo a tempestade no deserto
Sempre com o coração vazio e gelado como uma pedra
Sem medo das armas ou bombas ao meu redor
Sem um objetivo maior do que matar
Sem medo, sem piedade
Agora, quando acordo no meio da noite após um sonho bom
Sinto um arrepio cruzar minha espinha
E o medo toma conta desse corpo cansado
O medo de que as coisas boas dos sonhos
e memórias, nunca voltem a acontecer
O medo de talvez ter que entrar em uma nova guerra
(uma que eu sei que não posso vencer)
A guerra mundial entre eu e você.





Lucky Number 9

Sunday, 6 May 2012

eu sintético

Eu e meu cabelo, sintéticos
Como tudo ao meu redor, como todos ao meu redor
Como o brilho das porcarias que preciso comprar
Como os acordes das músicas que me mantêm vivo
Eu sintético, com uma visão que ninguém mais sabe como é

Wednesday, 2 May 2012

São Clemente e o amor



São Clemente, pode me emprestar um pé de cabras?
Preciso retirar uns pregos aqui, uns que não consigo ver.
Preciso de um toca-discos, e uma bela praia na frente da minha casa.
Não sei o que te dar em troca,
Meu coração já entreguei para uma garota,
E não posso mandar dinheiro para o céu


Talvez eu possa te dedicar uma canção,
Uma dessas, enlatada.
Mas que seja simples,
Você sabe como é difícil criar coisas
Como praias e toca-discos


São Clemente disse 
Que já tenho o toca-discos
Que já tenho a praia 
E que não preciso do pé de cabras


São Clemente, pode me emprestar um martelo?
Preciso pregar umas coisas aqui, umas que não consigo ver
Preciso de discos novos, e uma bela casa na minha praia.
Não sei o que dar em troca,
Meu coração já entreguei para uma garota,
E não posso mandar dinheiro para o céu


Talvez eu possa te dedicar um poema,
Um desses, automáticos
Mas que seja simples,
Você sabe como é difícil criar coisas
Como discos e casas


São Clemente disse
Que já tenho discos
Que já tenho a casa
E que não preciso do martelo


São Clemente, pode me emprestar uma furadeira?


São Clemente disse
Só pede o que já tem,
Quem não sabe o que possui
E quem não sabe o que possui
Só descobre quando perde.






Lucky Number 9

Saturday, 28 April 2012

Eu e Srta. Ribas

Que emprego escolhemos hein?
Arrancar palavras e sentimentos de noites etílicas
Encontrar as vírgulas certas no meio do caos de nossas vidas
Pensar e repensar em um tempo onde tudo parece cópia
Guerreando com travessões como se fossem nossos sabres de luz
Quanto mais nossas palavras envelhecem
Melhor elas ficam, como aquele bom e velho Jack...




( por nossa amizade...)


Lucky Number 9


Wednesday, 25 April 2012

26,1%

Certa vez
Eles tentaram, e eles conseguiram me quebrar
Fiquei espalhado um longo tempo,
Em minúsculos pedaços pelo chão

Com o passar das infinitas horas
As pessoas começaram a encontrar meus pedaços
Eles foram colando e me montando outra vez

Construíram
De uma forma diferente
Um outro eu.

Então eu percebi,
Que havia pedaços de outras pessoas misturados aos meus
Eu percebi
Que também já havia colado e salvado muita gente

Eu percebi
Que quase sem querer
Já havia quebrado muitas pessoas
Em pedaços menores que os meus





Lucky Number 9





Sunday, 22 April 2012

Ela & Ela

Máquina fria, aquecida por pensamentos
A solução dos problemas (que não existiam)
A Projetora de imagens
Detentora de todos os meus direitos autorais
Pedaço de plástico formidável
Não posso te abandonar
Não posso te quebrar
Porque nas noites (insuportáveis noites)
Entupidas de saudade,
É em sua tela brilhante
Que encontro o rosto dela.


Lucky Number 9

Sincronia


A cada dia sinto mais saudade,
sinto-me cada vez mais envolvida,
não é uma saudade que corrói,
eu sei que você está ai,
aqui,
do meu lado.

Sinto nossas respirações,
e como nossas vidas foram sincronizadas,
a playlist agradável,
o cheiro semelhante.

O anseio pela felicidade,
do outro,
de nós ,
de você
comigo.



Alucinada

Saturday, 21 April 2012

Pra você

Eu me arrependo de cada dia que vivi.
  ( sem você )
De cada sorriso que não dei.
 ( pra você)
De cada plano que iniciei.
 ( sem você )
De cada palavra que não disse.
 ( pra você )
Então todo amor que tenho agora eu dou.
 ( pra você )



Lucky Number 9

Arrependimento

Hoje queria chorar, já não aguentava mais aquela situação humilhante, mas não possuía mais lágrimas.
Estava chorando desde o dia de sua mudança, após quatro meses já chorava em seco. Sem lágrimas. Só a dor, sua fiel companheira. Aquele aperto no peito vazio que a sufocava. Não tinha mais sentimentos. Estava vegetando. Dormia toda noite com o arrependimento.
Seis meses depois conseguiu um emprego. Difícil foi se arrumar, não sabia mais fazer isso. Uma semana e já conseguia passar rímel sem borrar. Estava se readaptando ao mundo, tentando existir novamente.
Logo começaram as aulas, já conseguia não se odiar tanto quando aconteceu algo diferente, algo que ela falou que não aconteceria mais. Passou a sentir, em vários casos isso foi bom. Mas ela ainda morava ali, voltou a sentir toda aquela humilhação.
Hoje queria chorar, já não aguentava mais aquela situação humilhante, mas não possuía mais lágrimas.

Alucinada

não é só saudade

sentimentos leves e limpos,
soltos,
sem direção, nem contexto.


carência pela saudade
a saudade que não existe,
pois acabei de te ver.


deve ser algo mais,
não deve ser. é!
não é só saudade.


Alucinada

Friday, 20 April 2012

Machine Gun

Sabe,
Existem governos impositores
Existem hipócritas
Existem racistas, sexistas e terroristas
Existem desigualdades
Existem armas de destruição em massa
Existem capitalistas, comunistas, xiitas e vários outros itas
Existem metralhadoras, tanques e exércitos
Existem carros, fumaça e cigarros
Existem prédios, lixo e luxo
Existem pessoas
Existem

(Mas sabe,)
Existem canetas, e se você souber usar uma,
Pode destruir tudo isso.





(nesse mundo baseado em palavras, quem sabe usar uma caneta está muito bem armado)
Lucky Number 9

Thursday, 19 April 2012

Supermercado


Eu ando meio perdido entre prateleiras milimetricamente posicionadas, cheias de cores e intenções. O ar condicionado me faz lembrar que tudo aquilo é mais útil do que imagino. Joe Strummer e Noel Gallagher  dizem que não devo ficar muito tempo aqui dentro, afinal, já vendi minha individualidade para comprar mais uma caixa de atitude.
Achei estranho encontrar uma pessoa estrategicamente posicionada na seção do café. Era quase como se ela tivesse sido colocada de propósito, parada, em meio aos gritos e aos tomates rolando pelo chão.
A pressão causada pelo ar condicionado parou, a música acabou e pra variar, tropecei em alguma coisa.
Vi um sorriso meio envergonhado e lembrei de molho inglês. As conexões que o meu cérebro faz realmente me desapontam.
Tão estúpido que só reparei que tudo tinha voltado ao normal quando já estava na rua e Some Might Say voltou à tocar. Nada mal, fui comprar alguma coisa que não precisava e acabei ganhando um sorriso de verdade.
(e só os de criança são melhores que tomate)

Lucky Number 9

Ci(r)cle


Eu costumava encontrá-lo quase que diariamente, no mesmo banco, sempre no mesmo horário, com as pernas cruzadas, escondido atrás daqueles óculos escuros enormes e fumando aquele cigarro vagabundo. Ele era, de longe, a criatura mais egoísta e egocêntrica que já encontrei, mas mesmo assim, um dos meus passatempos favoritos era observar seus raros movimentos e me perguntar o quê aquela criatura solitária esperava encontrar ali.
Muitos dias se passaram assim, ele sentado sem nenhuma expressão e eu me misturando cada vez mais com aquela dúvida que só aumentava em observá-lo:
O quê ele quer? Está esperando encontrar a mulher da vida dele assim, só sentado?
Espera conseguir dinheiro? Ou é apenas um louco?

Então, depois de tanto tempo, decidi que aquele seria o último dia em que iria observá-lo, não agüentava mais o buraco negro que aquela dúvida estava se tornando dentro de mim.
No mesmo instante em que essa decisão se formava na minha cabeça, ele tirou uma caneta e um pedaço de papel do bolso, rabiscou qualquer coisa, colocou no banco e saiu.
A curiosidade que me tomou naquele instante foi tamanha, que apenas esperei ele se afastar um pouco pra sair correndo ver o que ele havia deixado lá.

Ao chegar ao banco estavam lá, seus óculos, um maço de cigarros aberto (mas com todos os cigarros ainda) e um bilhete que dizia:

“encontrei o que queria, e você?”

Cruzei as pernas, coloquei os óculos, acendi um cigarro e comecei a pensar...


Lucky Number 9