Saturday 16 June 2012

Racionalizado.



Clarice envolveu-se. Aconteceu novamente, tão rápido e intenso que inevitavelmente ela era tomada por um medo angustiante. Medo de mudanças drásticas da noite para o dia.

Impossível não prender-se àqueles olhos que Clarice costumava comparar com o mar, profundos de um azul cristalino belíssimo; ora águas bravas que te dominavam por inteiro e te lançavam para a imensidão, ora mansas porém persuasivas. A cor pálida de sua pele era como as manhãs de inverno européias, juntamente com os seus cabelos negros da cor da noite formavam uma beleza invejável. Brigite era intimidante e dissimulada ou apenas racional, como ela mesma costumava se rotular.

A primeira vez em que se encontraram houve um desejo árduo entre aquelas duas almas que pouco a pouco se conheciam.

Clarice era de um jeito que caía de amores facilmente, o que é diferente de se entregar fácil. Tinha receio de relações, mostrava-se uma mulher forte, não muito adepta de demonstrações de carinho e afeto. Completamente seu oposto. Mascarava-se como meio de defesa. Pessoas frágeis correm um risco maior de se machucarem, tanto fisicamente como psicologicamente.

II

Clarice sentia um desejo imenso de gozar à custa de Brigite. Selfsex? Tentava. Na realidade nem ao menos tentava, que paradoxo! Tocava-se e instantaneamente o desejo era cessado, pois sabia que jamais alcançaria o ápice do prazer como Brigite lhe proporcionava. Sentia vontade do atrito, dos gemidos, coxas entrelaçadas, suas unhas cravadas na pele provocando-lhe devaneios, gritos, olhares, respirações ofegantes, beijos, abraços, carícias… Clarice conformava-se e continuava esperando e esperando.

A verdade é que Brigite também necessitava de Clarice. Como qualquer ser humano precisa de outro, seja uma relação fraternal, amor ou paixão. Sentimento egoísta, talvez. Visando seu próprio prazer e bem estar. Todo ser racional faz/sente, involuntariamente ou não, toda hora, há todo momento.

Clarice sentia falta do brilho maravilhoso no olhar daquela mulher que lhe cativara. Sentia falta do sorriso secreto que pouco a pouco desaparecia. Ela sentia-se angustiada por talvez não suprir a necessidades que alguém como Brigite procurava em outro ser.

Brigite estava cansada. Cansada da mesmice, da monotonia e de acomodar-se, não por opção, mas por conveniência. Estava infeliz consigo mesma e aparentemente não tinha relação alguma com Clarice. Ela tinha sede de conhecimento e novas experiências. E Clarice tinha medo dessa sede, medo de ter saciado esta sede em Brigite a tal ponto que ela já havia se cansado e estaria buscando algo novo.

Clarice entrou em crise e calou-se. Seus sentimentos ficaram concentrados como em uma panela de pressão a ponto de explodir, borbulhava, ardia. Ela não iria falar, jamais. São coisas que são percebidas com o mínimo de atenção e não ditas. Todo ser humano que se preze deve ter ao menos um fio de orgulho e amor próprio.

Uma cabível solução para Clarice, seria uma pinça que ela pudesse enfiar em seu próprio cérebro e arrancar da consciência todos os pensamentos que a perturbavam. Sentia-se só, novamente, e às vezes parecia gostar de sentir-se só.

Na penumbra de seu quarto, exalando a mofo e cigarro barato, debruçada sobre a janela, lágrimas inundavam suas bochechas rosadas e Clarice decidira tomar uma atitude drástica: executar sua razão. REDRUM.




por: Mad Maria.

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