Thursday 19 April 2012

Ci(r)cle


Eu costumava encontrá-lo quase que diariamente, no mesmo banco, sempre no mesmo horário, com as pernas cruzadas, escondido atrás daqueles óculos escuros enormes e fumando aquele cigarro vagabundo. Ele era, de longe, a criatura mais egoísta e egocêntrica que já encontrei, mas mesmo assim, um dos meus passatempos favoritos era observar seus raros movimentos e me perguntar o quê aquela criatura solitária esperava encontrar ali.
Muitos dias se passaram assim, ele sentado sem nenhuma expressão e eu me misturando cada vez mais com aquela dúvida que só aumentava em observá-lo:
O quê ele quer? Está esperando encontrar a mulher da vida dele assim, só sentado?
Espera conseguir dinheiro? Ou é apenas um louco?

Então, depois de tanto tempo, decidi que aquele seria o último dia em que iria observá-lo, não agüentava mais o buraco negro que aquela dúvida estava se tornando dentro de mim.
No mesmo instante em que essa decisão se formava na minha cabeça, ele tirou uma caneta e um pedaço de papel do bolso, rabiscou qualquer coisa, colocou no banco e saiu.
A curiosidade que me tomou naquele instante foi tamanha, que apenas esperei ele se afastar um pouco pra sair correndo ver o que ele havia deixado lá.

Ao chegar ao banco estavam lá, seus óculos, um maço de cigarros aberto (mas com todos os cigarros ainda) e um bilhete que dizia:

“encontrei o que queria, e você?”

Cruzei as pernas, coloquei os óculos, acendi um cigarro e comecei a pensar...


Lucky Number 9

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