Monday, 18 June 2012

Persona non grata

Aqui estou eu mais uma vez, intoxicado pelo brilho sedutor dessa tela, lutando para assumir o controle de uma humanidade inteira que criei com o pensamento. Lutando para tentar entender a dádiva e a maldição que é ter uma mente corrompida e criativa. Como posso dormir se há centenas de pessoas na minha cabeça implorando para ganhar uma vida? Eu reluto, recuso o quanto posso. Eu seria só mais um deus cruel para eles, já que sou eu quem traça seus destinos, suas vidas e suas cruéis mortes. Como posso saber se realmente é indolor quando lhes tiro a vida de uma forma tão violenta? Ou quando destruo civilizações inteiras com um único pensamento? Eu iniciei um jogo perigoso, e às vezes assustador. Estou jogando com minhas próprias personagens. Andando por ruas que construí e me envolvendo com mulheres que parecem querer sair da ficção a todo custo, gritando por uma página a mais de vida, por mais duas linhas de perversão. Me sinto ingrato por recusar suas falas e personalidades. Não posso dar a todos a vida que merecem, Não posso dar vida à uma pessoa simplesmente para matá-la nas últimas linhas. Preciso pensar, preciso criar uma vida decente para todas elas, com amigos, dilemas, romance e mortes dignas. Juntar todos os fragmentos de mundo em um só, para que eles possam ir e vir sem pedir a minha opinião. Minha cabeça dói por começar a pensar em um cenário, talvez poucos saibam como é trabalhoso criar um planeta do nada. Um planeta com economia própria, contexto histórico e padrões sociais diferentes, com ruas e prédios arquitetados com detalhes. Esse é só o começo, a parte mais cruel  é com certeza preencher esse lugar de vida. Criar pessoas que não terão uma função maior do que simplesmente ter um nome, talvez com sorte, uma fala ou duas. Ferramentas para que os protagonistas atinjam seus objetivos mórbidos, tendo a existência inteira resumida à um apertar de botões ou atender um telefone. O que me conforta em iniciar um vasto mundo para deixá-los livres, é a ideia de que se eles saírem do meu controle, dessa vez eu cometo apenas um apocalipse, ao invés de dizimar outra centena de galáxias.



L. Number 9

Saturday, 16 June 2012

entrega


mata essa minha vontade,
tenta saciar esse meu desejo,
me enche de você
até que eu transborde,
então pára.
repara no que aconteceu
e aproveita, deita
e se esbalda.

aproveita esse colo,
quente.
que agora é seu.
por hora é todo seu.

inconscientemente: Alucinada.

Racionalizado.



Clarice envolveu-se. Aconteceu novamente, tão rápido e intenso que inevitavelmente ela era tomada por um medo angustiante. Medo de mudanças drásticas da noite para o dia.

Impossível não prender-se àqueles olhos que Clarice costumava comparar com o mar, profundos de um azul cristalino belíssimo; ora águas bravas que te dominavam por inteiro e te lançavam para a imensidão, ora mansas porém persuasivas. A cor pálida de sua pele era como as manhãs de inverno européias, juntamente com os seus cabelos negros da cor da noite formavam uma beleza invejável. Brigite era intimidante e dissimulada ou apenas racional, como ela mesma costumava se rotular.

A primeira vez em que se encontraram houve um desejo árduo entre aquelas duas almas que pouco a pouco se conheciam.

Clarice era de um jeito que caía de amores facilmente, o que é diferente de se entregar fácil. Tinha receio de relações, mostrava-se uma mulher forte, não muito adepta de demonstrações de carinho e afeto. Completamente seu oposto. Mascarava-se como meio de defesa. Pessoas frágeis correm um risco maior de se machucarem, tanto fisicamente como psicologicamente.

II

Clarice sentia um desejo imenso de gozar à custa de Brigite. Selfsex? Tentava. Na realidade nem ao menos tentava, que paradoxo! Tocava-se e instantaneamente o desejo era cessado, pois sabia que jamais alcançaria o ápice do prazer como Brigite lhe proporcionava. Sentia vontade do atrito, dos gemidos, coxas entrelaçadas, suas unhas cravadas na pele provocando-lhe devaneios, gritos, olhares, respirações ofegantes, beijos, abraços, carícias… Clarice conformava-se e continuava esperando e esperando.

A verdade é que Brigite também necessitava de Clarice. Como qualquer ser humano precisa de outro, seja uma relação fraternal, amor ou paixão. Sentimento egoísta, talvez. Visando seu próprio prazer e bem estar. Todo ser racional faz/sente, involuntariamente ou não, toda hora, há todo momento.

Clarice sentia falta do brilho maravilhoso no olhar daquela mulher que lhe cativara. Sentia falta do sorriso secreto que pouco a pouco desaparecia. Ela sentia-se angustiada por talvez não suprir a necessidades que alguém como Brigite procurava em outro ser.

Brigite estava cansada. Cansada da mesmice, da monotonia e de acomodar-se, não por opção, mas por conveniência. Estava infeliz consigo mesma e aparentemente não tinha relação alguma com Clarice. Ela tinha sede de conhecimento e novas experiências. E Clarice tinha medo dessa sede, medo de ter saciado esta sede em Brigite a tal ponto que ela já havia se cansado e estaria buscando algo novo.

Clarice entrou em crise e calou-se. Seus sentimentos ficaram concentrados como em uma panela de pressão a ponto de explodir, borbulhava, ardia. Ela não iria falar, jamais. São coisas que são percebidas com o mínimo de atenção e não ditas. Todo ser humano que se preze deve ter ao menos um fio de orgulho e amor próprio.

Uma cabível solução para Clarice, seria uma pinça que ela pudesse enfiar em seu próprio cérebro e arrancar da consciência todos os pensamentos que a perturbavam. Sentia-se só, novamente, e às vezes parecia gostar de sentir-se só.

Na penumbra de seu quarto, exalando a mofo e cigarro barato, debruçada sobre a janela, lágrimas inundavam suas bochechas rosadas e Clarice decidira tomar uma atitude drástica: executar sua razão. REDRUM.




por: Mad Maria.

“Oh mar, ah mar” leve-me à insanidade

Palavras são ditas, há todo momento. Palavras são inventadas, persuadidas. Sempre acompanhadas de sentimentos, maus ou não. Às vezes tornam-se individualistas, egoístas, carregados de sentidos obscuros e intensos. Sentidos em inúmeras direções, sentidos no gosto e no ardor da alma, isso é, se houver uma. Sentidos dispersos entre sussurros e gemidos… que sensação! Sentimentos vistos através dos olhos cristalinos, perdendo-se na imensidão do mar… “OH MAR, AH MAR”, leve-me à insanidade…

Palavras… Induzem. Sentimentos são instigados, porém amadurecem.
Novamente, palavras, algumas não precisam de uma boca indecisa e imatura, tampouco de um ouvido ingênuo. Necessitamos apenas sentir e apreciar. Omitir dos olhos curiosos, because no one need to know.



Mad Maria

Sunday, 3 June 2012

Vida Diet

Ah, essa vida moderna, enlatada e cheia de conservantes! Esse ritmo frenético de indas e vindas sem sentido! Esse ódio pré-programado em html e os amores barrados no anti-vírus. apertos de mão que não existem e sorrisos estampados com tinta barata. Isso tudo me enoja. Antiquado sentimento de orgulho por ser um só, por ser só um. Ócio detestável dos meu olhos, que se desviam das palavras impressas e se prendem aos caracteres de 8 bits. Doce ironia em jogar um sentimento a mais no limbo desse mundo. Padronizando mais um pedaço de mim. Me tornando encontrável aos satélites que me guiam para casa. Me tornando mais um ao invés de um só. Amável dissonância que chega aos meus ouvidos, direto dos confins de Londres via fibra-óptica. Linda raiva pasteurizada em uma guitarra made in china. Louvai ao semi-deus Processador de dados, pois ele transmite todo o conhecimento necessário para nossa vida. Louvai aos anjos que enviam nossas mensagens por e-mail, pois sem eles, nossas preces não seriam atendidas. Ah, a incrível revolução com uma imagem! o protesto em um muro sem tijolos. A batalha Vietnamita renderizada com desprezo, e as mudanças que queremos nos países que nunca visitamos! Celebrai-vos a imbecilidade humana, pois agora  podemos comemorar um Status coletivo! Não há culpados, não dessa vez!
Celebrai mais uma vez a ironia! A ironia de escrever essas palavras, que produzem mais um leitor automático de palavras automáticas.





(Lucky Number 9)